quarta-feira, 8 de julho de 2015
19:20
| Postado por
Adriana de Jesus Fogaça
Título: A Volta da Graúna
Autor: Henfil
Prefácio de Ivan Cosenza de Souza
Apresentação Ziraldo Alves Pinto
Editora: Geração Editorial
Ano: 2003
Comprar: Nos seguintes sites: Americanas, Submarino, Livraria Saraiva, Livraria Cultura e Livraria Folha
Resenha:
Para quem gosta de quadrinho, tem que conhecer a obra deste cartunista simplesmente fantástico que é o Henfil.
Além dos quadrinhos, Henfil escreveu artigos ("Cartas da Mãe"), livros ("Diário de um Cucaracha", "Henfil na China"), teatro, TV e cinema.
Neste livro vamos rever as aventuras de um trio de personagens da caatinga: a Graúna, o bode Francisco Orelana e o cangaceiro Zeferino. De primeiro já se percebe que as historinhas se passam no Nordeste com um sol escaldante e que o coronelismo ainda está presente, tentando impedir que seu povo de viver e ser feliz.
Zeferino é o líder do trio. O pode Orelana (...um explorador do rio Amazonas e herói do imaginário sul-americano... nas palavras do também cartunista Spacca) que devora livros. Já a Graúna é um passarinho negro com uma barriguinha redonda, dois pauzinhos como perninhas, um rabinho é um pauzinho na horizontal como pico que segura os olhos. Parece um desenho de criança, mas um dos personagens mais complexo e divertido que já li.
Graúna é cheia de facetas, é tudo ao mesmo tempo agora. Há momentos que ela é ingênua, mas logo mostra sua esperteza. Depois, parece doce e infantil, mas acaba se mostrando sensual.
No prefácio o Ivan, filho do Henfil, da uma dica: - "A Graúna pode ser lida por crianças, que se apaixonaram por sua parte rebelde, mesmo sem entender o teor político de sua atuação...". É um livro para todos sem exceção.
RECOMENDADÍSSIMO!!!
Contra Capa:
"Morro, mas meu desenho fica"
Henfil
Sinopse:
A vida às vezes nos prega peças amargas. Henfil já estava condenado à morte por causa da Aids - que contraiu devido a uma transfusão de sangue - quando nós o convidamos para trabalhar conosco no Caderno 2 do Estado de S. Paulo, do qual eu era editor, em 1986. Henfil era o mais importante cartunista e humorista brasileiro da época, e ainda estava sendo muito patrulhado, pela direita e pela esquerda, por não ter aderido ao complô que elegeu Tancredo Neves para presidência da República.
Tínhamos vivido na mesma triste e pobre cidade de Minas - Bocaiúva, no miserável Vale do Jequitinhonha - e trabalhado no mesmo jornal de resistência à ditadura militar - o velho Pasquim - mas, por incrível que possa parecer, não nos conhecíamos pessoalmente. Tínhamos uma grande antipatia um pelo outro, embora eu admirasse o trabalho dele e fôssemos muito parecidos, no nosso radicalismo e na nossa cruel intolerância em relação aos nossos adversários. Uma luta política estéril é completamente sem sentido nos tinha separado.
Éramos - tanto ele quanto eu - extremistas radicais e apaixonados: defendíamos com unhas e dentes nossas frágeis verdades. Mas aprendemos a gostar um do outro no convívio que se estabeleceu desde então, no Caderno 2. Livre outra vez para criar, Henfil de certa forma ressuscitava para o público. Creio que ele nunca teve tanta liberdade. Acho que foi feliz.
Ele já estava condenado à morte quando começou trabalhar conosco, mas era surpreendente sua energia, sua vontade de transformar o mundo. Estava já muito abatido pela doença, mas parecia mais humano, mais doce, mais tolerante com as pessoas. Henfil morreu sem perdoas aqueles que traíram o movimento das Diretas Já, mas já não era o intelectual agressivo e cruel que chegará a "matar" a cantora Elis Regina só porque ela havia cantado na abertura da Olimpíadas do Exército, durante a ditadura.
No final da vida, ironia do destino, foram jornais conservadores - O Estadão e O Globo - que garantiram emprego e sobrevivência para esse grande artista. Quando já não tinha forças para o trabalho diário, pediu - e obteve - permissão para publicar as antigas historias da Graúna, de Zeferino e do Bode Orelana na página de quadrinhos. A história da incrível Graúna (que Geração Editora também vai publicar) saiu no Estadão até o dia da morte de Henfil. Quem acompanhou pôde perceber uma trágica realidade: o Brasil da Graúna era o Brasil de Médici, Geisel e Figueiredo - mas era também o Brasil de José Sarney, assim como poderia ser o de Fernando Collor.
Ai de nós: quem ler estas histórias do Fradim, velhas de mais de 20 anos, vai descobrir que ainda retratam nosso pobre país. Um país que assassina a lucidez e a independência e premia o corrupto, o incompetente, o que se curva a se vende. O país em que os grandes ladrões não são punidos.
Reler, ou, para as novas gerações, descobrir Henfil e seus personagens é um exercício de cidadania. Este A Volta do Fradim é o primeiro volume de uma série que Geração Editora pretende publicar, para resgatar a obra eterna desse grande brasileiro que foi Henfil. Ele foi exemplo de dignidade, coerência e força humana. Ele foi - na pureza dura e paradoxalmente firme de seu traço frágil, mas cortante - um criador. Um patriota. Um lutador.
-Luiz Fernando Emediato
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